terça-feira, 8 de setembro de 2009

independência ou morte

Levantou-se. Era feriado e um silêncio marcante tomava conta da cidade. Pegou um café, uma torrada com queijo e, com a gata a seus pés, recordou do filme que vira na noite anterior. Pensou em como é bom acordar na casa da mãe e encontrar tudo pronto na mesa: por um instante, sentiu saudades de morar ali. Folheou uma revista, tomou mais café e comeu outra torrada, dessa vez sem queijo, pois notou que sua calça favorita mostrava uma certa resistência ao passar por suas coxas.  Talvez tenha sido fruto do abuso do final de semana, a ausência na academia ou o simples inchaço feminino daquele período do mês em que elas não são ninguém.

Tomou banho e foi almoçar com as amigas. Jogar conversa fora é sempre bom. Levou um espumante e sorvete de creme para comemorar aquele feriado lindo, sol e céu azul. Conversou, cochilou no sofá, deu risada e agradeceu em silêncio pelo novo círculo de amizades que fizera nos últimos meses. Sua vida estava diferente, grandes alterações em sua rotina a fizeram mudar o rumo, mudar os caminhos, mudar os pensamentos, mudar os planos. Bem ela que odeia mudanças, viu-se obrigada a reciclar.

Voltou para casa, já era noite, com o mesmo CD no rádio, ar condicionado gelando as mãos e a cabeça a mil por hora. Tudo deveria estar ótimo, mas sentia uma sensação estranha. Podia jurar que ela estava escondida em seu pulmão, tamanho era o aperto no seu peito. Depois passou pelo estômago e pelo seu coração. Por fim, fixou-se em sua cabeça, deixando de lembrança uma dorzinha latejante.

Lembrou que passara o dia todo aflita, sem entender muito bem o porque. Era feriado, tinha descansado, aproveitado o cinema vazio, Marginal sem caos, família, doces, gatos, acordar sem hora e sem pressa. Não tinha motivo nenhum para sentir tudo aquilo que estava sentindo. Chegou em casa, ligou a TV e, jogada no sofá, viu as comemorações do feriado no noticiário. Viu o Museu do Ipiranga, as festas, desfiles oficiais e políticos sorrindo. Logo mudou para a tv paga, pois estava cansada de hipocrisia televisionada.

7 de setembro de 2009. Enquanto celebravam o grito de liberdade, ela, em silêncio, tentava assimilar tudo aquilo que sentia. Não queria independência, nem muito menos morte. Desligou a TV e foi dormir, com a esperança que o dia 8 fosse diferente, sem simbolismos ou significados. Apenas um dia 8 qualquer, mais um dia entre tantos no calendário.

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